(como el caballo de la fuga interminable.)
VICENTE HUIDOBRO
Carrer Marinada, número infinito
Há um lugar onde tudo escorre lento.
Inclusive o tempo.
E sua maleabilidade de granito.
Há um tempo menos aflito
onde a velocidade do vagar se assoma
a tudo em que acredito.
Há um castelinho bonito.
E um número deitado que representa o infinito.
Carrer Marinada.
Tudo e nada.
(...)
Há também um cavalo de fogo.
Corisco, rasga o céu aflito.
Como se o tempo fosse explodir a ampulheta.
Como se o rastro de certezas grafasse no céu um risco.
Definitivo. No espaço siderado de um grito.
Cavalgo, vento e fogo, o testemunho aflito.
Cavalgo, espanto e fúria. E tanta ternura,
que vazo para o lado de lá.
Enquanto o mundo gira,
aqui a poesia fica.
Definitiva.
Cravada em devaneio e perspectiva.
(...)
O mundo nos é avesso.
Como ave só, em seu começo.
Sem vôo, tropeço.
E no vôo, incesto.
Ensaio de vôo à beira do precipício.
A queda vertiginosa no sorriso.
E o tal abrigo
na garganta grave do amigo.
Carrer Marinada, duas paralelas, e mais nada.
Encontram o fim em seu início.
À meia noite em meio ao corpo outra badalada.
Sinos avisam a hora mais surda e a mais destra.
Sinos dobram como dobramos os papéis
onde escrevemos um poema.
Sinos poesias anunciando que aqui ninguém vai para o céu.
Vamos seguir aqui. Assim. Perscutando os espaços vazios.
Preenchendo o que foi tirado do cenário por um Deus incoerente.
Com poesia cravada nos dentes.
E o infinito como escolha e destino.
CAÊ GUIMARÃES